Uma segunda chance para a árvore no conceito do Wabi Sabi.

Uma criação
perfeita e quase divina: um móvel esculpido na tora do Jatobá caído com todas as suas
ranhuras e fissuras... Os orientais inventaram uma expressão para isso: Wabi
Sabi. Um olhar sobre as coisas com simplicidade que definem a beleza
contida nas imperfeições.

Pelas mãos
do designer Raiz Ferreira, ele prefere assim ser chamado, troncos que seriam
descartados viram mobiliário. A mesa imponente que ocupa o canto da sala na
casa de campo, o banco e a gamela denuncia sua primeira vida: um jatobá derrubado
não pela mão do homem, mas pela força da natureza, ganha sua segunda
encarnação. Perpetuado pelas mãos de Raiz Ferreira, que interfere o mínimo
possível nas suas formas originais.
Sob a ótica do Wabi Sabi Raiz lança o seu olhar sobre as coisas pela lente da simplicidade e da naturalidade.

Um jovem
oriental chamado Rikyu, no seculo XV quis aprender sobre a cerimonia do chá. O
mestre para testa-lo pediu que varresse o chão. Ao terminar, o chão
impecavelmente limpo, chacoalhou e fez cair sobre as pedras flores da cerejeira. O mestre o aceitou no
mosteiro porque Rickiu captou a essência do Wabi Sabi. A beleza contida na
imperfeição. Nada é permanente e imutável.
Os princípios do Wabi-Sabi (idealização artística desenvolvida por volta do século XV) podem ser encontrados na natureza, e implicam em virtudes do caráter humano. Isso, por sua vez, sugere que a virtude e a civilidade podem ser expressas através da prática e da apreciação das artes. Assim, os ideais estéticos têm uma conotação ética e permeiam grande parte da cultura japonesa.

O Wabi-Sabi é definido
como a estética da beleza nas coisas imperfeitas, impermanentes e incompletas.
A transição das coisas deixam marcas de suas travessias que são consideradas
belas. Wabi-Sabi pressupõe
assimetria, irregularidade, simplicidade e minimalismo em sua mais pura
essência.
O termo Wabi conota simplicidade rustica, frescor e quietude. Pode se referir também a anomalias e deformidades decorrentes do processo de construção de um objeto. Sabi é a beleza e a serenidade que vem com a idade, com a vida daquele objeto, cuja evidência de sua historia transparece nas rachaduras e no desgaste. Pressupõe sabedoria na simplicidade natural ou confiabilidade imperfeita.

O Wabi-Sabi pode ser
identificado nos objetos mais básicos e naturais, no craquelado de um objeto, nos
materiais envelhecidos como a madeira nua ou como o papel desbotado pelo tempo.
No valor meditativo que o mesmo desperta no observador.
O conceito de estética Wabi Sabi enquanto objeto artístico no desenvolvimento das reflexões apresentadas no presente trabalho evidencia sua contribuição enquanto peça fundamental na representação do imaginário uma vez que conta a história, a arte e a cultura de um povo para outros povos, recruta a beleza artística por meio de sua historicidade, confere sua identidade histórico-cultural e artística na ressignificação de suas diversas linguagens. E a interação metalinguística ocorre porque estão intrinsicamente relacionadas essas diversas linguagens, conferindo-lhe formas diversificadas de apresentação·.
