Crianças aprendem sobre a natureza

Quando a sala de aula se estende para além das quatro paredes o aprendizado evolui...Assim ficou constatado com experiência extraclasse em visita eco
pedagógica à Estação Permacultural Complexo Ecológico Estância dos Portais, com Alunos do Ensino Fundamental II.
Através da observação e do aprendizado com os princípios básicos que regem os trabalhos da estação permacultural, observadas nos sistemas naturais da diversidade, da flexibilidade e da reciclagem próprios da Permacultura, os alunos vivenciaram os princípios das artes visuais na bioarquitetura, na construção com os recursos que a terra oferece e os objetos oriundos da reciclagem.
A interação com as paisagens naturais foi a proposta de prática realizada na Estação Permacultural a fim de proporcionar através da vivência e do desenvolvimento de atividades relacionadas com o principal eixo do projeto que é o aprendizado das Artes Visuais através da Permacultura como componente transversal norteado pelo pensamento sistêmico. O projeto apostou na dinâmica participativa, na ação ensino/aprendizagem e na observação das paisagens naturais para a produção de artes visuais neste ambiente totalmente integrado com a natureza.
A programação geral tem como parte do cronograma a visitação dos espaços, a observação, a reprodução de acordo com a releitura e a interpretação de cada aluno. A vivência foi conduzida da seguinte forma: Leitura da proposta para os trabalhos; Trilha de 300 metros para observação atenta da paisagem; Visitação da floresta nativa, do Rio Águas Quentes e observação do horizonte para entendimento e reprodução das interfaces existentes na natureza; Observação da floresta para compreensão da linguagem dos padrões existentes na natureza e sua reprodução através das artes visuais; Oficina para realização de obras de arte pelos alunos propiciando aos mesmos a capacidade de identificar conexões entre os elementos apresentados; Relato dos alunos sobre suas experiências com as artes visuais e a natureza, apresentando suas próprias conclusões, despertando assim seu senso crítico.
Na primeira atividade desenvolveu-se a dinâmica na qual foram apresentadas aos alunos para compreensão do pensamento sistêmico, no que tange às reações de descaso que temos diante de situações que não nos afetam. A poesia de Eugen Berthold Friedrich Brecht, um destacado dramaturgo, poeta e encenador alemão do século XX e também "O aviso do rato" extraído do folclore nordestino. Exemplifica a dificuldade decorrente da relutância que temos ao reagirmos à mudanças graduais. "Primeiro levaram os negros" e "O aviso do rato". Citado por Sergio Lins:
"Primeiro levaram os negros"
"O aviso do Rato"
Quando o rato falou que viu uma cobra se arrastando na direção da casa da fazenda, a galinha, a vaca e o porco disseram que não era problema deles, pois não viviam lá. Pouco depois, a cobra picou a dona da casa que, ao adoecer, precisou de dieta especial que incluía uma boa canja de galinha. Os vizinhos, que visitaram a doente, saborearam um bom churrasco e um suculento pernil. Enquanto a vaca, a galinha e o porco serviam de alimento, o rato se deliciava com as migalhas deixadas pelos descuidados visitantes. ( FOLCORE NODESTINO, apud LINS, 2009, p.22)
É notória a importância de se perceber que todos trilham os mesmos caminhos no processo de aprendizagem e que as mentes devem estar interligadas. Ações devem ser praticadas em função de um todo por todos. Esse conceito de sintonia é o alicerce onde as ações são melhores praticadas e a excelência nos resultados é visivelmente garantida.
A realização da segunda atividade consistiu na identificação
e na releitura dos signos da natureza. Aos grupos I, II e III foram oferecidas imagens
representativas de padrões e interfaces encontrados na natureza. Cada grupo
deveria identificar os padrões semelhantes existentes naquele ambiente e
relaciona-los o mais quantitativo possível. As imagens representativas
dos padrões e das interfaces consistiram: na Spiral Jetty, escultura de Robert
Smithson (1970); Design patterns (1995) e Van Gogh's "Wheatfield with Reaper (1889).
Spiral Jetty.Robert Smithson
Fonte:https://sacadaonline.com.br/personalizado2/a-espiral-de-robert-smithson/


Figura3 - Van Gogh's "Wheatfield
with Reaper (1889)"
https://www.vincentvangogh.org/wheat-field-with-a-reaper.jsp

No trabalho de observação em campo os
alunos se mostraram muito participativos. O grupo I (Alunos B, C e H) encontrou
três elementos na natureza cujas imagens mais se aproximavam dos elementos
oferecidos para comparação. Captaram as seguintes imagens: os padrões no fruto
do buriti, na folha da samambaia, a espiral do broto da samambaia.



Os alunos do grupo II (D,
E e F) identificaram três elementos: os padrões encontrados no palmeiral. As
interfaces na linha do horizonte e do rio. Esta dinâmica demonstra a interação entre as ciências, permitindo a
eliminação de suas fronteiras, e como uma forma ou um padrão da natureza pode
se transformar em signos de artes visuais. O que a botânica ou a biologia
influenciam na arte. O que as artes visuais influenciam nas relações de
afetividade. O que relações sociais influenciam na educação. O insight visa proporcionar modelos e
princípios gerais de forma que todas as ciências possam se beneficiar dos
conhecimentos de cada uma.



O grupo III ( A,D e G) identificou as interfaces do rio, do horizonte, da vereda,os padrões dos pássaros em revoada e os padrões das flores. Prima-se que ao compreender os padrões naturais e as interfaces os alunos tornarão melhores observadores dos sistemas complexos da natureza. Quem mais bem observa mais bem os compreende. Seguindo as palavras de Itamar Vieira (2006) estudioso da Permacultura, decifra-se um padrão de comportamento observando o padrão se repetindo para se configurar um padrão e que, como principiantes estudiosos da natureza, devemos observar as novas conexões que nos passem despercebidas. Para assim, associar o comportamento à mudança de fato.



Para a atividade três
desenvolveu-se uma oficina: Aos grupos I, II e III foram oferecidos materiais
para reprodução em grupo das representações dos signos identificados na
natureza e elaboraram a releitura dos mesmos através da obra de arte. Constou
nos materiais telas medindo 60x60, tintas em acrílico, pincéis, sprays, colas,
papeis e trapos. Para
a presente oficina foi reservado um ambiente previamente preparado para tal
evento. Para o resgate da memória de trabalho dos alunos foi usado como suporte
a máquina fotográfica, pois previamente se registrou os signos identificados
por eles. A escassez de material foi proposital. Estabeleceu-se aí o segundo
elemento complexo: a competição pelos materiais gerou discussão entre os grupos
e ainda assim entre alguns membros de cada grupo.
Percebeu-se uma interação muito
produtiva entre os membros do grupo I (B, C e H). O material escasso não se
constituiu problema para a realização da proposta. Os membros dinamicamente se
dirigiram ao trabalho de campo para resgate de material representativo do signo
reproduzindo-o através de sobras de tintas dispersas no quintal das respectivas
casas. O grupo II ( E,F e I) preferiu se colocar isolado a portas fechadas, e
houve situações de discussão entre o próprio grupo.O grupo III (A, D e G) se
manteve disperso na maioria das vezes. O aluno G se ausentava constantemente se
revezando entre a elaboração da obra e o notebook
ou o computador da sala ao lado.
A presente oficina se iniciou as 14h00min. Em torno de 17h24min o grupo I (B,C e H) finalizou o trabalho e se ausentou para a prática de skates. A aluna E se ausentou sendo requisitada pela mãe da mesma, e logo mais às 18h28min a aluna A também foi requisitada pela mãe da mesma, pois ambas tinham outros propósitos para o dia, pois a oficina fora realizada em dia feriado. Presenciou-se aí o terceiro elemento complexo enfrentado pelos grupos.
Releitura dos signos da natureza. Grupo I (B, C e H)

Estando os dois grupos restantes desfalcados pela falta dos membros, a aluna I, integrante do grupo II se mostrou bastante prestativa ao auxiliar a aluna D que ficou laborando sozinha. A aluna I se alternava entre um grupo e outro. Às 18h28min o aluno G se dispõe a retornar às atividades, mas logo em seguida se afasta novamente disperso no computador. Às 19h00min a aluna D finaliza a obra isoladamente. Às 20h00min o grupo II finaliza o trabalho com apenas dois membros restantes, as alunas F e I.
Releitura dos signos da natureza. Grupo II (E, F e I).

Releitura dos
signos da natureza. Grupo III ( A , D e G)

Na
gênese da existência humana, o homo sapiens, em seu limitado número de
indivíduos, era apenas mais uma espécie seguindo no rumo da cadeia evolutiva.
Alimento, moradia e ferramenta para seu sustento se enquadravam num equilíbrio
naturalmente espontâneo (JACINTHO, 2006). No decorrer dos tempos, essa evolução
vem refletindo tendências de cooperativismo e demandam um comportamento que o
sujeito não se enquadra mais no conceito individualista e sua sobrevivência
demanda uma relação com o outro. Porque alem das necessidades básicas
agregou-se a elas, a cultura, a educação, a beleza e um vasto leque de vontades
e desejos. O que se verificou nesta experiência foi a necessidade que o sujeito
tem de interação com o outro. Essa interação torna-se a chave-mestra para o
resultado desta experiência. Que se traduz na influencia recíproca, holística e
sistêmica numa sala de aula de artes visuais.
Por Adelita Mesquita
