Crianças aprendem sobre a natureza

07/02/2019


Fonte: a autora
Fonte: a autora

Quando a sala de aula se estende para além das quatro paredes o aprendizado evolui...Assim ficou constatado com  experiência extraclasse em visita eco pedagógica à Estação Permacultural Complexo Ecológico Estância dos Portais, com Alunos do Ensino Fundamental II. 

Através da observação e do aprendizado com os princípios básicos que regem os trabalhos da estação permacultural, observadas nos sistemas naturais da diversidade, da flexibilidade e da reciclagem próprios da Permacultura, os alunos vivenciaram os princípios das artes visuais na bioarquitetura, na construção com os recursos que a terra oferece  e os objetos oriundos da reciclagem.

A interação com as paisagens naturais foi a proposta de prática realizada na Estação Permacultural  a fim de proporcionar através da vivência e do desenvolvimento de atividades relacionadas com o principal eixo do projeto que é o aprendizado das Artes Visuais através da Permacultura como componente transversal norteado pelo pensamento sistêmico. O projeto apostou na dinâmica participativa, na ação ensino/aprendizagem e na observação das paisagens naturais para a produção de artes visuais neste ambiente totalmente integrado com a natureza.

A programação geral tem como parte do cronograma a visitação dos espaços, a observação, a reprodução de acordo com a releitura e a interpretação de cada aluno. A vivência foi conduzida da seguinte forma: Leitura da proposta para os trabalhos; Trilha de 300 metros para observação atenta da paisagem; Visitação da floresta nativa, do Rio Águas Quentes e observação do horizonte para entendimento e reprodução das interfaces existentes na natureza; Observação da floresta para compreensão da linguagem dos padrões existentes na natureza e sua reprodução através das artes visuais; Oficina para realização de obras de arte pelos alunos propiciando aos mesmos a capacidade de identificar conexões entre os elementos apresentados; Relato dos alunos sobre suas experiências com as artes visuais e a natureza, apresentando suas próprias conclusões, despertando assim seu senso crítico.

Na primeira atividade desenvolveu-se a dinâmica na qual foram apresentadas aos alunos para compreensão do pensamento sistêmico, no que tange às reações de descaso que temos diante de situações que não nos afetam. A poesia de Eugen Berthold Friedrich Brecht, um destacado dramaturgo, poeta e encenador alemão do século XX e também "O aviso do rato" extraído do folclore nordestino. Exemplifica a dificuldade decorrente da relutância que temos ao reagirmos à mudanças graduais. "Primeiro levaram os negros" e "O aviso do rato". Citado por Sergio Lins:

"Primeiro levaram os negros"

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negroEm seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operárioDepois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserávelDepois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importeiAgora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo (BRECHT, apud LINS 2009, p.22)

"O aviso do Rato"

Quando o rato falou que viu uma cobra se arrastando na direção da casa da fazenda, a galinha, a vaca e o porco disseram que não era problema deles, pois não viviam lá. Pouco depois, a cobra picou a dona da casa que, ao adoecer, precisou de dieta especial que incluía uma boa canja de galinha. Os vizinhos, que visitaram a doente, saborearam um bom churrasco e um suculento pernil. Enquanto a vaca, a galinha e o porco serviam de alimento, o rato se deliciava com as migalhas deixadas pelos descuidados visitantes. ( FOLCORE NODESTINO, apud LINS, 2009, p.22)

É notória a importância de se perceber que todos trilham os mesmos caminhos no processo de aprendizagem e que as mentes devem estar interligadas. Ações devem ser praticadas em função de um todo por todos. Esse conceito de sintonia é o alicerce onde as ações são melhores praticadas e a excelência nos resultados é visivelmente garantida.

A realização da segunda atividade consistiu na identificação e na releitura dos signos da natureza. Aos grupos I, II e III foram oferecidas imagens representativas de padrões e interfaces encontrados na natureza. Cada grupo deveria identificar os padrões semelhantes existentes naquele ambiente e relaciona-los o mais quantitativo possível. As imagens representativas dos padrões e das interfaces consistiram: na Spiral Jetty, escultura de Robert Smithson (1970); Design patterns (1995) e Van Gogh's "Wheatfield with Reaper (1889).

Figura3 - Van Gogh's "Wheatfield with Reaper (1889)"

https://www.vincentvangogh.org/wheat-field-with-a-reaper.jsp


No trabalho de observação em campo os alunos se mostraram muito participativos. O grupo I (Alunos B, C e H) encontrou três elementos na natureza cujas imagens mais se aproximavam dos elementos oferecidos para comparação. Captaram as seguintes imagens: os padrões no fruto do buriti, na folha da samambaia, a espiral do broto da samambaia.


Fonte: a autora
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Fonte: a autora
Fonte: a autora
Fonte|: a autora
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Os alunos do grupo II (D, E e F) identificaram três elementos: os padrões encontrados no palmeiral. As interfaces na linha do horizonte e do rio. Esta dinâmica demonstra a interação entre as ciências, permitindo a eliminação de suas fronteiras, e como uma forma ou um padrão da natureza pode se transformar em signos de artes visuais. O que a botânica ou a biologia influenciam na arte. O que as artes visuais influenciam nas relações de afetividade. O que relações sociais influenciam na educação. O insight visa proporcionar modelos e princípios gerais de forma que todas as ciências possam se beneficiar dos conhecimentos de cada uma.

Fonte: a autora
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O grupo III ( A,D e G) identificou as interfaces do rio, do horizonte, da vereda,os padrões dos pássaros em revoada e os padrões das flores. Prima-se que ao compreender os padrões naturais e as interfaces os alunos tornarão melhores observadores dos sistemas complexos da natureza. Quem mais bem observa mais bem os compreende. Seguindo as palavras de Itamar Vieira (2006) estudioso da Permacultura, decifra-se um padrão de comportamento observando o padrão se repetindo para se configurar um padrão e que, como principiantes estudiosos da natureza, devemos observar as novas conexões que nos passem despercebidas. Para assim, associar o comportamento à mudança de fato.

Fonte: a autora
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Para a atividade três desenvolveu-se uma oficina: Aos grupos I, II e III foram oferecidos materiais para reprodução em grupo das representações dos signos identificados na natureza e elaboraram a releitura dos mesmos através da obra de arte. Constou nos materiais telas medindo 60x60, tintas em acrílico, pincéis, sprays, colas, papeis e trapos. Para a presente oficina foi reservado um ambiente previamente preparado para tal evento. Para o resgate da memória de trabalho dos alunos foi usado como suporte a máquina fotográfica, pois previamente se registrou os signos identificados por eles. A escassez de material foi proposital. Estabeleceu-se aí o segundo elemento complexo: a competição pelos materiais gerou discussão entre os grupos e ainda assim entre alguns membros de cada grupo.

Percebeu-se uma interação muito produtiva entre os membros do grupo I (B, C e H). O material escasso não se constituiu problema para a realização da proposta. Os membros dinamicamente se dirigiram ao trabalho de campo para resgate de material representativo do signo reproduzindo-o através de sobras de tintas dispersas no quintal das respectivas casas. O grupo II ( E,F e I) preferiu se colocar isolado a portas fechadas, e houve situações de discussão entre o próprio grupo.O grupo III (A, D e G) se manteve disperso na maioria das vezes. O aluno G se ausentava constantemente se revezando entre a elaboração da obra e o notebook ou o computador da sala ao lado.

A presente oficina se iniciou as 14h00min. Em torno de 17h24min o grupo I (B,C e H) finalizou o trabalho e se ausentou para a prática de skates. A aluna E se ausentou sendo requisitada pela mãe da mesma, e logo mais às 18h28min a aluna A também foi requisitada pela mãe da mesma, pois ambas tinham outros propósitos para o dia, pois a oficina fora realizada em dia feriado. Presenciou-se aí o terceiro elemento complexo enfrentado pelos grupos.

Releitura dos signos da natureza. Grupo I (B, C e H)

Fonte: a autora
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Estando os dois grupos restantes desfalcados pela falta dos membros, a aluna I, integrante do grupo II se mostrou bastante prestativa ao auxiliar a aluna D que ficou laborando sozinha. A aluna I se alternava entre um grupo e outro. Às 18h28min o aluno G se dispõe a retornar às atividades, mas logo em seguida se afasta novamente disperso no computador. Às 19h00min a aluna D finaliza a obra isoladamente. Às 20h00min o grupo II finaliza o trabalho com apenas dois membros restantes, as alunas F e I.

Releitura dos signos da natureza. Grupo II (E, F e I). 


Fonte:a autora
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Releitura dos signos da natureza. Grupo III ( A , D e G)


Fonte: a autora
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Na gênese da existência humana, o homo sapiens, em seu limitado número de indivíduos, era apenas mais uma espécie seguindo no rumo da cadeia evolutiva. Alimento, moradia e ferramenta para seu sustento se enquadravam num equilíbrio naturalmente espontâneo (JACINTHO, 2006). No decorrer dos tempos, essa evolução vem refletindo tendências de cooperativismo e demandam um comportamento que o sujeito não se enquadra mais no conceito individualista e sua sobrevivência demanda uma relação com o outro. Porque alem das necessidades básicas agregou-se a elas, a cultura, a educação, a beleza e um vasto leque de vontades e desejos. O que se verificou nesta experiência foi a necessidade que o sujeito tem de interação com o outro. Essa interação torna-se a chave-mestra para o resultado desta experiência. Que se traduz na influencia recíproca, holística e sistêmica numa sala de aula de artes visuais. 

Por Adelita Mesquita

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